30.8.12

O Padre Joaquim

 

Quando o meu pai sofreu o acidente, esteve muito tempo internado no Hospital de Santo António, eu ia lá todos os dias, nessa altura pedi ao meu patrão para sair todos os dias as 17 h, as visitas era até as 19 h e nunca vou esquecer que fiz esse horário 2 meses, sem nunca me ter descontado 1 hora. E eu também faço horas e nunca pedi para me pagar, "uma mão lava a outra como se costuma dizer".

Nessas visitas o meu irmão também ia, encontravamo-nos lá os dois, dávamos-lhe o jantar, e fazíamos companhia, eu gostava também de espreitar para as outras enfermarias, não sei bem porque, mas eu gostava, e haviam muitas visitas a essa hora, claro  que os familiares que eram do Porto quando saiam dos empregos corriam para o hospital para ver os seu queridos doentinhos, o meu pai mudou de enfermaria 3 vezes, e eu sempre conhecia uma pessoa ou outra que me tocava, ou porque eram pessoas muito jovens, ou porque eram pessoas que quase não tinham visitas, algumas marcaram-me.

Mas num dos últimos dias do meu pai naquela enfermaria, enquanto o meu mano estava com ele, eu fui dar a minha voltinha, e na enfermaria ao lado estava uma pessoa sozinha com o tabuleiro na mesinha com a sopinha, o pão e a fruta, cheguei-me a cama e estava um senhor  a olhar para o tecto quase sem pestanejar, uma carinha serena e os olhos muito doces, muito magrinho, aparentava ter por volta dos oitenta anos, cheguei-me a ele e perguntei: Então não come a sopinha? e ele disse - não me apetece.  Oh disse eu, está com tão bom aspecto, quer ajuda? - não, não deixe estar, disse ele muito aflito mas com voz arrastada, como se não quisesse dar trabalho. - mas eu gostava de lha dar, pode ser? - ele olhou bem dentro dos meus olhos, deve ter visto que eu fazia aquilo com o maior prazer e começou a tentar sentar-se, mas estava com muita dificuldade, não lhe perguntei nada, nem o que tinha, nem porque estava ali, só queria que se  levantasse um pouquinho para lhe dar a sopinha enquanto quente, eu sabia que aquela cama levantava. mas realmente era mesmo trenga e foi ele que me teve que dizer onde era a geringonça para o levantar, e ainda o fiz sorrir.

Dei-lhe a sopinha, ele tremia imenso, e só olhava para mim, perguntou-me o nome, eu perguntei o dele, ele disse que se chamava Joaquim, disse-lhe em brincadeira que era muito simpático, e  tinha o nome do meu irmão e do meu avô, ele sorriu.

Depois da sopinha despedi-me do Sr. Joaquim e voltei para a enfermaria do meu pai,e logo se passou a hora da visita.

No dia seguinte, um sábado fui visitar o meu pai e passei pela enfermaria do Sr. Joaquim só para cumprimentar ele não era de falar muito, mas eu sentia-o falar para mim com aquele sorriso.  Estive sempre com o meu pai, o meu mano viria mais tarde, quando acabou a hora da visita ao passar pela enfermaria do meu amigo doente para me despedir vi que lá tinha visitas, uma freira e um senhor , pensei serem familiares, e brinquei com ele - com que então cheio de visitas não é? e por isso nem me liga, rss ele sorriu e a senhor que o visitava perguntou-me então foi a menina que ontem deu a sopa ao Sr. Padre?  Padre? O senhor é padre? Ele olhou para mim e fez um sim tão levezinho com a cabeça, e pegou-me na mão, eu nem sei descrever o que senti naquele momento, e muito menos o que pensei,  fiquei tipo barata e também não percebo porque, um padre é um homem, e o homem era o Sr. Joaquim. Como sempre não perguntei mais nada, nem de onde era, nem porque estava ali, só me despedi. No dia seguinte ao passar pela enfermaria o Sr. Joaquim já não estava, tinha sido transferido para um hospital da área onde residia.

E hoje lembrei-me do Padre Joaquim, e esteja onde estiver ore por mim que eu orarei por si.

Eu Oh! Achava o Sr. Joaquim com cara de Anjo seria?

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